Ontem, no fim da tarde, voltei para minha mesa do trabalho com um copo de café quentinho na mão para ver se enganava o frio de São Paulo. Sentei diante do note e fui atualizar meus e-mails no Outlook, quando me deparei com um recém-chegado da Luna e quase cuspi o que bebia de susto ou surpresa, não sei ao certo. Com apenas uma linha ela quebrou o silêncio absoluto estabelecido entre nós há mais de um mês e que eu não tinha mais esperança de que se quebrasse. “To morrendo de saudade :( ”Parada, segurando o café, reli por alguns segundos. "Eu também", pensei. Apenas pensei. E guardei o pensamento. Tenho certeza que ela me acharia covarde e gritaria a minha “covardia” no meu ouvido, mas... Não podia responder. Não podia e me revolta sentir refém de situações absurdas.
Lembrei de Claudete, a taróloga que abriu o baralho para mim há meses atrás. “Aqui aparece muito você clamando por justiça”. Sim, ela tinha razão.
Saí da empresa pouco depois do horário e ao descer do elevador, ignorei a garoa gelada do lado de fora e fui andando até o ponto de ônibus (eu não ando de guarda-chuva). Cheguei e cinco minutos depois uma chuva forte começou a cair. Detalhe, o ponto não era coberto e eu não fiz o menor movimento para atravessar a rua e ficar debaixo de algum lugar. Fiquei ali, com o mp4 no ouvido, a chuva no meu rosto, o frio na minha pele e a cabeça rodando. Naquele momento, meu mundo era particular e todo o cenário figuração.
De um lado, Luna, o e-mail daquela tarde, tudo o que fez por mim sem ao menos saber que fazia, a ausência de noção e crença por parte dela do que representa pra mim, do quanto importa, o “inferno personificado” que a cerca, a quantidade de vezes que a avisei em vão, que tentei protegê-la nas limitações que se apresentavam, o quanto era nítido o que ela sentia por mim e o quanto soa como louca (para terceiros) toda a história que fizemos parte. Do outro, Thais, um sentimento (unilateral), uma relação, a falta de compreensão do que ainda me prende, a facilidade que tenho hoje de dizer isso a ela.
Há algum tempo decidi me poupar da obrigação de concluir coisas, mas ontem bem que tentei. Não cheguei a lugar algum. Grande novidade.
Às vezes temos a sensação de que não sabemos onde estamos, mesmo estando conosco todos os dias. As cores se desposicionam, a energia não é contínua, os atalhos se sobrepõem, o caminho não é claro e as placas que nos direcionam são ilegíveis. Diante de tudo isso, nada parece no lugar e ajeitar as coisas pra sentir que a vida flui soa improvável.
Uma hora depois meu ônibus passou.
Desejei que meu coração fosse gelado. Gelado como a água que enxarcava minha roupa.

2 comentários:
vc escreve tanto sobre mim, que às vezes sinto como se estivesse me lendo. Impressionante. E lindo.
saudades
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